Encenação: Manuel Ramos Costa
Género: um drama tão velho quanto a humanidade e tão humano quanto o eram os próprios deuses
Intérprete: Aurora Gaia
Sinopse: Mário Cláudio, a partir do texto de Eurípedes recria, numa versão suavizada, «Medeia», a viver no século XXI. Jasão, amante e marido desta Medeia contemporânea, é um homem calculista, vaidoso e preocupado, antes de tudo, com a obtenção da promoção social. Obcecado com o acesso ao poder, não hesita em trocar a vida com restrições, ao lado de uma mulher mais velha, cuja beleza começa já a declinar e não favorece a sua ascensão social. Um pouco como o Jasão clássico que ambicionava casar-se com a filha do rei de Corinto e tornar-se o príncipe consorte…
A Medeia atual é atriz consagrada. Representa tão bem o papel da Medeia clássica, que acaba por incorporá-la na própria personalidade. A personagem de Eurípedes parece mesmo ter sido talhada à medida da sua pessoa, de tal forma se identifica e projeta na personagem do dramaturgo clássico. E vice-versa.
A mulher que protagoniza ambas as versões da história é vítima de uma paixão fulminante, que a deixa cega de ciúme, ao ver-se trocada por uma jovem, após dez anos de casamento e dois filhos. O acontecimento consegue despertar uma série de ódios recalcados, que desvia para os próprios filhos, que são também filhos de Jasão, prejudicando-os gravemente no seu desenvolvimento interpessoal, com o único objetivo de causar desgosto no ex-amante.
«Medeia», de Mário Cláudio, é um fascinante jogo de comparação, em termos sociológicos e civilizacionais, de comportamentos que se veem como transversais ao Tempo e à própria História. As duas Medeias – a de Cláudio e a de Eurípedes – são, na verdade, irmãs, quer no tocante àqueles que as rodeiam quer em relação a si próprias, ao pautar a vida pela infelicidade e pelo medo obsessivo de perder o objeto do próprio Desejo. Um Desejo que é o motor da própria vida. Mas que, na realidade, a luta incansável pela posse e conservação do amor da pessoa amada, acaba simplesmente por asfixiá-lo.
EQUIPA TÉCNICA:
Isilda Margarida, direção de cena / José Correia, cenário / Daniela Fula, guarda-roupa
Artur Leite, luz / António Alberto, som / Alice Grade, caracterização /
Contacto, 61 ª produção / Estreia: Casa da Contacto, 8 de Outubro de 2016